quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Meditação Matinal O CHAMADO DO INSIGNIFICANTE



Então, disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a Teu servo, pois sou pesado de boca e pesado de língua. Êxodo 4:10

Essa seção do segundo livro das Escrituras (Êx 4:8-16) aparece como um intervalo entre as vibrantes cenas no drama do êxodo. Aqui nós encontramos em Moisés aquele tipo de fraqueza que muitos escritores e biógrafos oficiais tentam esconder acerca de seus heróis. Esse é um relato estranho e embaraçoso na história de Moisés. De minha infância, eu trazia outra concepção dele. Em minha mente, tinha um daqueles quadros que ilustram as histórias da Bíblia, em que Moisés aparece quase como uma personificação do próprio Deus. Uma figura expressiva de terrível autoridade. Em pose dramática, dignamente barbado, imperturbável, com os olhos fitos no horizonte, segurando as tábuas da lei, como se a própria autoridade dos mandamentos dependesse de sua autoridade. Um verdadeiro super-homem do Sinai!

Assim ele foi imortalizado no mármore por Michelangelo. O próprio Sigmund Freud foi impressionado com essa visão de Moisés. Em seu livro Moisés e o Monoteísmo, o líder hebreu se ergue como um símbolo dos temores da infância. Pelos teólogos da libertação, Moisés foi descrito como um grande libertador, símbolo de força revolucionária.

Mas a leitura desses textos do êxodo destrói qualquer fantasia acerca de Moisés. Aqui, ele aparece cheio de lamúrias e queixas. Com infindáveis desculpas. Cheio de autopiedade. Questionando, incrédulo quanto à libertação de seu povo, apresenta uma série de escusas. Ele não era nada mais que um velho pastor do deserto. Então com 80 anos, sem qualquer posse ou influência, considera que esse sonho de libertação parece uma utopia, se não for uma insanidade. Enquanto o Senhor aparece cheio de esperança, Moisés é o realista da história – apenas quer ser deixado em paz.

O chamado de Moisés é, sem dúvida, o chamado do insignificante. O chamado do insuficiente. Confesso que, algumas vezes, lendo o relato bíblico, eu me identifiquei com Moisés. Ele conhecia a incredulidade de seu povo. Ele conhecia suas limitações. Contudo, Moisés estava passando por alto o elemento central de seu chamado. Ele esteve, pelo menos inicialmente, desconsiderando Aquele que pode arranjar circunstâncias e mudar situações. Afinal, o problema de Moisés não era nenhum problema para o Todo-Poderoso, e um dos nossos problemas é não entender isso.







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